Na história do Espírito Santo, um dos vultos mais emblemáticos conjuga-se na personalidade de Luíza Grinalda. Nascida cerca de 1541 e falecida após 1626, foi casada com o filho bastardo, perfilado, do primeiro donatário da Capitania: Vasco Fernandes Coutinho (VIº) Filho. O herdeiro era oriundo da relação de D. Vasco Fernandes Coutinho (Vº) e da concubina Anna Vaz de Almada (1), dama que teria acompanhado Vasco Coutinho Sênior na expedição e posse da Capitania Hereditária, cedida por D. João IIIº de Aviz. Coube a Dona Luiza Grinalda, com a morte do marido, em 1589, assumir o comando da Capitania. Empossou, a seguir, como capitão mor adjunto, Miguel Antônio de Azeredo. A historia registra o fim do mandato da capitoa em 1593. Entre seus atos administrativos combateu o pirata inglês Thomas Cavendisch, recebeu e fez doações aos franciscanos, beneditinos, acolheu o Bispo prelado do Rio de Janeiro, cooperou com Joseph de Anchieta na catequização, promoveu a imigração de portugueses, espanhóis, judeus e migrantes de outras capitanias para a terra capixaba. Viveu com Vasco Coutinho Filho, Luíza, em Vila Velha, na Praia da Costa (2), numa propriedade. Seu testamento, datado de 05-05-1588, revela que deixa “uma tença de 30$000 anuais, e o mais a sua mulher”. Afirma, ainda, que sua morada é “a fazenda da costa, (...), junto ao Monte Moreno e pouco distante da colina do convento da Penha”. Luiza Grinalda, ao final do seu governo, com a herança do novo donatário (3), retornou à sua pátria, Portugal, tornando-se “Sóror Luiza das Chagas”, falecendo no Mosteiro Paraíso, das irmãs dominicanas, na cidade de Évora.
Em sua homenagem o município vila velhense denominou um logradouro, artéria urbana, com o nome de Luíza Grinalda. Também criou a “Ordem Municipal do Mérito Luíza Grinalda”. (4)
Desde a publicação de um artigo, no século XX, pela falecida professora Maria Stella de Novaes, especulando ser Luíza Grinalda uma representante da nobre família italiana dos “Grimaldi”, ergueu-se a polêmica. Em 1993, a convite do engenheiro Roberto Brochado de Abreu, então presidente da Casa da Memória, de Vila Velha, fiz uma palestra, onde destaquei a insegurança de fontes primárias comprobatórias da hipótese. Nossa posição de historiador era a mesma de genealogista militante. (5) Não conhecíamos fontes seguras. Na historiografia nacional, do século XIX-XX, passando por Basílio Daemon, Serafim Leite, Aristides Freire, José Teixeira de Oliveira, entre duas dezenas de autores consultados, jamais detectei o sobrenome “Grimaldi”. Por outro lado, um historiador competente, averigüei mais tarde, estudando centenas de famílias de origem judaica, alude “casou com Luiza Grimaldi ou Grinalda”. (6)
Todavia, o Padre Francisco Antunes de Siqueira, na obra “Poemeto Descritivo da Província do Espírito Santo, em 1884, no canto XIX, redigiu os versos: “Luiza de Grimaldi, em doações, fez ricos a miséria e a pobreza”. Membro da elite local, com excelente educação, foi autor de um estudo sério: “Esboço Histórico dos Costumes do Povo Espírito Santense, editado em 1893. Já o Padre Helio Abranches Viotti, S.J., na obra “Anchieta: O apóstolo do Brasil”, de 1981, descreve “Filha do diplomata português Pedro Álvares Correia e de Catarina Grimaldi, descendia por sua mãe de Honorato Iº, Barão de Beuil (...). Desposando a Vasco Fernandes Coutinho (Filho), o segundo donatário da capitania do Espírito Santo” (...)
Consultando um primo, de origem pernambuco-alagoana, o Prof. Dr. Francisco Antônio de Moraes Accioli Doria, membro do Colégio Brasileiro de Genealogia, professor universitário aposentado no Brasil e genealogista notável, que se encontrava na Itália pesquisando documentos genealógicos dos séculos XII ao XVI, soubemos que a genealogia de Luiza Grimaldi é consenso na Europa. Prometeu-nos averiguar algum texto batismal ou de casamento. Mas, de antemão, do alto de sua experiência e ancestralidade em familias florentinas da baixa Idade-Média, garantiu-nos que hoje é “fato consumado”, entre genealogistas europeus, de que Luiza Grinalda foi um nome português adotado em registro por uma representante legítima do clã dos “Grimaldi”. Todas as árvores genealógicas repetem e provam isso. E um documento, acerca deste fato, é secundário, diante da certeza que impera na comunidade de pesquisadores.
Pelo exposto, fui fundamentar com vários outros genealogistas, como eu, a opinião, não sendo difícil achar em vários núcleos a ascendência de Luiza Grimaldi (Grinalda, em Portugal e Brasil). Vejamos:
1) – Luiza Grinalda (Luiza Grimaldi) – n. cer. 1541 / f. após 1626 – c/c Vasco Fernandes Coutinho (VIº) Filho. Seus Irmãos: F1. Renieri Grimaldi, Barão de Bueil, Signore de Val di Massa, c/c Tomalisma Lascaris, filha de Pietro Lascaris. F2. Giovanni Battista Grimaldi, Signore de Seroty e de Todon, fal. 1543, c/c Françoise de La Baume, filha de Hugues de La Baume, Sire de Tiret, em França. F3. Giacomo Grimaldi. F4. Caterina Grimaldi c/c Pedro Alvarez Correia (Pais de Luiza Grinalda, em Portugal)). F5. Anna Grimaldi c/c Carlo Provana, Signori de Leini. F6. Maddalena Grimaldi c/c Claude de Forbin, Sire de La Motte-Gardamne, em França. F7. Francesca Grimaldi c/c Fracnesco de Ponti, Signore de Scarnafidgi.
Avós Maternos:
Honório Iº Grimaldi, Barão de Bueil, Signore de Val di Massa, nas. Cerca 1470 e fal. 1523. A 1ª vez c/c Battistina Fragoso (nas. 1473 e fal. 1516). A 2ª vez c/c Barthelemia de Ceve.
Bisavós Maternos:
Giacomo Grimaldi. Barão de Bueil, Signore de Val di Massa, c/c Caterina Caretto. 3ª Neta Materna de Pietro Grimaldi, Barão de Bueil, Signore de Val di Massa. 4ª Neta Materna de Giovanni Grimaldi, Barão de Bueil, Signore de Val di Massa. 5ª Neta Materna de Barnabeo Grimaldi, Barão de Bueil, Signore de Val di Massa, c/c Beatrice Maria de Glandevez, filha de Guilhaume de Glandevez, Sire de Cuers, em França. 6ª Neta Materna de Andaro Grimaldi, Signore de Val di Massa, c/c Astruge Rostang, filha de Guilhaume Rostang, Barão de Bueil. 7ª Neta Materna de Lanfranco Grimaldi, Vigário em Provence, na França, falecido em 1281, matrimoniado em 1281 com Aurélia del Caretto, nas. 1254 e fal. 1307. Esse Lafranco Grimaldi, do século XIII, com posição social destacada, teve dois filhos, o primeiro foi Ranieri Iº Grimaldi, Signore de Cannes e Almirante de França em 1304, cujo filho primeiro foi Carlo Iº Grimaldi, Signore di Mônaco, Mentone e Roquebrune, cuja descendência originou o Principado de Mônaco, na divisa da Itália com a França. (7) O segundo filho de Lafranco Grimaldi, acima, veio dar em Luiza Grimaldi. Assim, sem pertencer a Casa Sereníssima e Real dos Príncipes de Mônaco, era, entretanto, Luiza Grimaldi ou Grinalda, prima, afastada, em 5º grau, do primeiro Senhor de Mônaco, Carlo Iº Grimaldi, antes da criação do Principado, que data de 1611, quando foi criado por Honorato II Grimaldi, cuja soberania somente seria reconhecida em Setembro de 1641, pelo “Tratado de Peroné”, entre Louis XIIIº de France e Honorato IIº de Mônaco. (8)
(*) – O autor é Bacharel e Licenciado em História. Pós Graduado em História do Espírito Santo e Pós Graduado em Teoria da História. Diretor Executivo do Instituto de Ciências Biológicas, Políticas e Sociais Dom Vasco Fernandes Coutinho – IVAFEC-ES. O historiador Eloi Angelos Ghio é candidato inscrito na vaga para a cadeira nº 08 da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro. Escreveu cerca de 15 obras, entre literatura e ensaios de história, sociologia, geografia, genealogia, heráldica, antropologia.
(1) – A mulher oficial de Vasco Fernandes Coutinho (Vº), o primeiro donatário da Capitania do Espírito Santo, jamais saiu de Portugal, para viver em terra capixaba. Seu nome era Maria do Campo. Coube a Ana Vaz de Almada acompanhar o amante além mar.
(2) – TEIXEIRA DE OLIVEIRA, José. História do Estado do Espírito Santo. 2º Edição. Vitória-ES: Fundação Cultural do Espírito Santo, 1975, pg. 110, nota 02.
(3) – Trata-se do Capitão Mor Francisco de Aguiar Coutinho, que governou a Capitania do Espírito Santo de 1605 a 1627.
(4) – Criada pelo Município de Vila Velha, entre seus dignatários está o político capixaba, de origem mineira, Dr. Élcio Alvarez, ex-governador do ES, ex-senador, ex-Ministro de Estado, e atual Deputado Estadual pelo ES.
(5) – Detectei em genealogias históricas, comprovadas por documentação, que o sobrenome Grinalda, corruptela de Grimaldi, em Portugal, continuou a ser repassado nos descendentes de Domingos de Azeredo Coutinho e Melo e de sua mulher Ana Tenreiro da Cunha no Brasil, nas pessoas de Andreza Grinalda, e de Luiza Josefa Grinalda, viventes em 1700.
Cf. RICHA, Lênio Luiz. Genealogia Brasileira – Os Títulos Perdidos. Estado de São Paulo. Capítulo 6º, Parte 2ª, 3-6 (CR. 1.159). Capítulo 6º, parte 12 (BG.60. 157, DB. 146, 296, CR. 1170, 550 e PP. 65/6).
(6) – SALVADOR, José Gonçalves. Cristãos-Novos, Jesuítas e Inquisição Aspectos de sua atuação nas capitanias do Sul, 1530-1680. São Paulo: Livraria Pioneira, 1969.
(7) – Casa Sereníssima e Real Grimaldi – Vários Documentos Genealógicos – Itália, França, Europa Oriental. Internet.
(8) - http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%B3naco
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