domingo, 8 de novembro de 2009

Militares brasileiros fogem da farda

Remuneração // Forças Armadas estão perdendo os seus técnicos mais qualificados para a iniciativa privada. Eles buscam melhores salários Edson Luiz // Diario de Pernambuco

Rio de Janeiro - O Brasil está se tornando referência no desenvolvimento de tecnologia militar na América Latina, mas corre o risco de ver um trabalho de mais de duas décadas atrasar por vários anos. A cada dia, as Forças Armadas estão perdendo seus melhores quadros técnicos para a iniciativa privada por causa dos baixos salários. Só neste ano, 10 especialistas de várias áreas deixaram o Instituto Militar de Engenharia (IME) e não foram substituídos. No Centro de Tecnologia do Exército (CTEx), não há renovação de pessoal e muitos estão prestes a se aposentar. Quando os militares não perdem seus técnicos para empresas, perdem para outros órgãos do governo que pagam melhor.


O problema é considerado tão sério que foi um dos assuntos da última reunião do Alto Comando do Exército, realizada no final do último mês, em Brasília. O diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) do Exército, general Augusto Heleno Ribeiro Pereira se mostrou preocupado com o cenário que viu no Rio. Ele recebeu muitas queixas de subordinados. "É uma pena a gente perder engenheiros top de linha desta forma. Foi um investimento do Exército", diz.
General Augusto Heleno diz que
quando deixa o Exército, o
engenheiro acaba indo trabalhar
no que não gosta. Foto: Breno Fortes/
CB/D.A Press - 7/4/08


Todos os profissionais que trabalham na área de ciência e tecnologia do Exército foram formados nas fileiras da Força. Além dos militares, o IME e o CTEx contratam civis, mas o processo de seleção para o instituto é tão rigoroso que poucos conseguem passar. No CTEx, a situação é inversa, já que muitos dos especialistas são civis, mas em número reduzido. "Alguns estão bem próximos de se aposentar, pois o último concurso que tivemos foi em 1990", afirma o subchefe do centro, coronel Hildo Vieira Prado Filho.

No CTEx também há outro problema. Como 78% dos engenheiros que trabalham no local são oficiais, eles são obrigados a fazer cursos de graduação e suas vagas não são preenchidas. Com isso, os projetos em que estavam envolvidos ficam paralisados. "Hoje temos mais militares do que civis, mas o ideal seria o contrário", afirma Prado. "Quando os militares retornam ao centro estão desatualizados, pois não são substituídos", diz. O mesmo problema ocorre no Centro de Avaliação do Exército (CAEx), onde é testado tudo que é desenvolvido no CTEx.

"A evasão é causada pela questão salarial. Isso impossibilita a realização profissional. O engenheiro acaba não trabalhando naquilo que gosta", explica o general Heleno. No caso do IME, as 10 perdas deste ano foram para concursos públicos e a iniciativa privada, onde os salários são melhores e as perspectivas de crescimento, maiores. Segundo o diretor de ensino do instituto, general Amir Elias Abdalla Kurban, há casos em que empresas assumem a indenização que os técnicos teriam que pagar ao governo. Além de especialistas nas áreas em que trabalham, os engenheiros militares possuem profundo conhecimento de questões estratégicas, como o desenvolvimento do míssil Superfície-Superfície, hoje em fase de avaliação no CTEx. Mas não apenas pesquisas voltadas para a área militar estão sendo trabalhadas pelos especialistas. No centro, por exemplo, os jovensoficiais estão testando a transformação de resíduos de petróleo em fibras de carbono, cuja tecnologia hoje só é dominada pela China e pelos Estados Unidos. Durante a pesquisa, os engenheiros do Exército descobriram um tipo de piche menos poluente para ser usado na indústria de alumínio.
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